"Ela levanta da cama ainda tonta pela bebedeira da noite
anterior, a ânsia aparece segundos depois. Joga para o lado a mecha de cabelo
que está atrapalhando sua visão, olha o amontoado de roupas no chão, aquelas
roupas de grifes que custaram tão caro e agora estão molhadas por cerveja
barata e emitindo um forte odor que deve ser presente da fumaça dos cigarros
daquela mesma galera com que sai pra se divertir.
O gosto ruim vem novamente à sua boca, agora ela se pergunta
se é mesmo causado pelo álcool que consumiu ou pelo sabor amargo das bocas
aleatórias que beijou. Checa o celular só pra saber se tem alguma mensagem dele,
mas se depara com cerca de seis conversas diferentes e desinteressantes sobre
como a noite anterior foi maravilhosa. Pega a toalha de banho, coloca suas
pantufas e tenta se equilibrar até o banheiro.
Suspira enquanto observa seu reflexo, se perguntando quando
sua vida se tornou isso, quando virou uma pessoa tão limitada, chegava a ser
difícil se reconhecer nos olhos vazios e opacos que lhe observam de volta,
capturando todas as imperfeições que tanto lhe assustam.
Acaba por desistir de encarar a realidade, liga o chuveiro
na temperatura máxima, a água quente cai sobre seu corpo, anestesiando não
somente ele, mas também sua alma, levando o cheiro de mais uma das noitadas que
fingiu aproveitar. O vapor que sai do chuveiro é reconfortante, faz com que se
sinta aquecida, acolhida, completa e traz memorias de quando sua única preocupação
era a espinha que teimava de surgir em dias inapropriados.
Sabe que está atrasada para seus compromissos diários, mas
se deixa demorar mais alguns minutos na sauna improvisada. Quando sai do banho,
limpa o vapor que ainda está presente no espelho e se encara novamente. O
rosto, que agora está limpo da maquiagem borrada, continua sem animo, sem
brilho, como se a felicidade que ali habitava tivesse se mudado sem deixar se
quer nenhuma explicação.
Mas ela sabia pra onde a sua felicidade foi, ela foi embora
com ele, quando sussurrou aquele adeus e disse que não aguentava mais fingir
que ainda sentia algo por ela. Quando ele desistiu, quando lhe deu as costas,
quando aquela porta bateu... Naquele dia ele se foi e metade dela foi junto.
Termina de se arrumar sem derrubar uma lágrima sequer, o
choro já secou, o seu coração já tinha se esgotado da automutilação lembrando
que memórias como essa. Dizem que a tortura constante não deixa de doer, mas o
corpo acostuma a se anestesiar, talvez o mesmo tenha ocorrido com sua alma.
É apenas uma segunda-feira qualquer, mas um inicio de
semana, ela abre a porta e parte para seus afazeres. Já sabendo que no fim de
semana seguinte esse ritual se cumprirá novamente."

Pode me chamar de Jess. 20 anos, blogueira.
Fã de Game Of Thrones, Arctic Monkeys e Harry Potter.
Amante da escrita e leitora voraz.
Taubateana com sotaque mineiro, uai. Escritora de crônicas, resenhas e conselhos que tem dificuldade para seguir.
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